sábado, 2 de agosto de 2014

VIDA E MORTE DE UMA LARANJINHA

Para quem ainda não me conhece o meu nome é Beth. Vivemos em grupo e em famílias que os humanos insistem em chamar de laranjais, mas são nossas casinhas onde vivemos felizes e ao ar livre. Como sou ainda muito novinha me chamam de verde e não desperto muito a atenção e interesse. Sabemos que existem outros lugares iguais a esse e as histórias que ouvimos não são nada boas. Quando maduras, os humanos chegam, apalpam as nossas partes íntimas e levam aquelas que acham prontas para o consumo. Não gostamos de ser consideradas objetos de consumo. Mas ainda é cedo para eu pensar nisso. Tenho muita coisa para fazer e não posso perder tempo com bobagens.
O tempo foi passando e  já sou uma moça, quer dizer, uma laranjinha feita e, modéstia a parte, muito bonita. Que digam os laranjinhos da minha idade.
Numa bela tarde de primavera, eis que tudo mudou. Chegou um enorme caminhão cheio de homens truculentos e começa o ritual de escolha para quem vai nessa leva. Infelizmente chegou a minha vez. Nem precisei ser apalpada e nem avaliada. De um só golpe tiram a minha virgindade me tirando do caule que me prende à minha casa. Juntamente com minhas amigas e parentes somos jogadas em sacos e lançadas, sem a menor cerimônia, no caminhão. Em silêncio e constrangidas, viajamos por horas, até pararmos em um enorme galpão onde somos armazenadas. Todo dia passam em nós uma espécie de conservante químico, onde vamos perdendo a nossa identidade. Tempos depois somos levadas para um lugar que chamam de supermercados e ficamos expostas à visitação pública e começa de novo o constrangimento, onde compradores nos apalpam e nos selecionam. Sou colocada em um saco por uma senhora e levada para uma balança para ser pesada. Logo depois sou levada à força a sua residência e colocada em  uma geladeira. Que frio meu Deus. Logo eu que desde pequenina vivo ao ao ar livre. Sei que meu suplício está por acabar.
Um belo dia, chega uma garoto de uns 10 anos mais ou menos. O seu olhar arregalado e esfaimado não me deixa dúvidas: chegou a minha hora. Lentamente ele vai me descascando e, de um só golpe...não preciso nem continuar. Morri com um solene Nhac!

O moral da história: devemos aprender a respeitar  as coisas mais simples e singelas que se nos apresentam no nosso dia a dia.
Pr Emir Tavares

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