sexta-feira, 23 de abril de 2010

LIDERANÇA QUE TRANSFORMA

LIDERANÇA TRANSFORMADORA, OU

LIDERANÇA COMO AGENTE DE MUDANÇA
Quando falamos em liderança, sem querer ter a pretensão de abordar o aspecto técnico do termo, temos que ter em mente que estamos nos referindo em primeira e última análises à pessoas. Pessoas essas, que trazem dentro de si, mesmo que inconscientemente, toda uma bagagem de valores adquirida ao longo de suas jornadas.
Vivemos em uma época marcada, não de uma forma latente, a partir do final da década de sessenta e início da de setenta, de um movimento ou escola denominada Pós- Modernismo ou Pós-Modernidade. Esse movimento teve como precursor o filósofo Friedrich Wilhelm Nietzsche. Essa escola se ramificou e se desenvolveu ao longo das décadas, assumindo – dentre outras - as seguintes características:
- O Relativismo; onde cada um tem o direito de ser um livre pensador, no sentido original do termo. Não importa o que os outros pensam sobre determinado assunto; o que vai interessar é a minha opinião sobre o mesmo.
- O Pluralismo; onde todas as crenças; todas as religiões levam a Deus. Vemos aqui uma forte pressão das chamadas minorias sociais, pleiteando direitos iguais não importando o teor ético de sua mensagem. Contrariar isso é se posicionar como “politicamente incorreto”.
- A quebra de dogmas. Tal qual aconteceu com a queda do muro de Berlin em nove de novembro de 1989, tudo aquilo que é considerado como dogmático é rejeitado e lançado ao chão. Essa vertente, para nós genuinamente cristãos protestantes, é a mais danosa, pois não existe nada mais dogmático do que a Palavra de Deus. Quem quiser saber mais sobre a questão dogmática, sugiro que leia os livros: O Evangelho e os dogmas de Henri Denis e O Dogma de Cristo de Erich Fromm.
Evidentemente que existem outras ramificações como o consumismo desenfreado, o hedonismo, etc., não objetos dessa análise.
Finalizando essa introdução é de bom tom dar uma lida na entrevista cedida ao Jornal O Globo de 17/02/2007, do filósofo francês Luc Ferry, autor do livro O Homem-Deus; em que afirma em meio a outras colocações que Nietzsche nunca esteve tão atual como hoje. É o que ele chama de divinização do homem, ou o humano sagrado.
Dentro dessa linha de raciocínio, não poderia passar em branco a obra "O ser e o nada", em que Jean-Paul Sartre faz uma síntese de sua primeira fase chamada filosófica existencial inspirada por Husserl e Heidegger. Sartre faz um exame detalhado da sociedade humana; como ela se manifesta, estudando o abstrato concretamente. Sartre condena o homem a ser livre, nem que isso signifique projetar fins inutilmente. Apesar de tudo, aponta a esperança como caminho para se sair desse caos existencial.
O até agora exposto está diretamente relacionado com conduta, com escala de valores morais e éticos. As pessoas que adentram os portais de nossas igrejas estão permeadas desses valores. Valores esses que são facilmente disseminados e assimilados. A liderança que está voltada para mudanças, não pode se dar ao luxo de ignorar esse tema.




PRINCÍPIOS DE UMA LIDERANÇA SADIA
Antes de passarmos para os tópicos propriamente ditos, nunca é demais ressaltar que o líder jamais deverá perder a noção de liderado, sob pena de seu discurso cair no vazio.
O exemplo, a dedicação, o amor com e com quem o cerca; são indiscutivelmente o maior legado que um líder, de uma maneira natural, pode transmitir para um líder em potencial, de forma que o mesmo possa em qualquer situação atingir os resultados de uma forma eficaz, com espírito de iniciativa e de lucidez.

- Priorizando o serviço
Cabe aqui assinalar “O modelo de Bento”, fundador do de um famoso mosteiro e escreveu A Regra que, difundida em muitos países, lhe conferiu os títulos de patriarca do monaquismo beneditino do Ocidente e padroeiro da Europa. A sua Regra (RB) tinha como lema: ORA ET LABORA (Oração e trabalho), em oração, fé e obediência.
Vamos ao seu modelo de liderança: “Ele deve cuidar de todos. Não fazer nada sem instrução do abade. Não deve afligir os irmãos. Se por acaso um irmão revelar desejos insensatos, não deve magoá-lo, rejeitando-o com desprezo, mas sim negar o pedido inconveniente com dignidade e esclarecimento dos motivos (RB 31,3-7).
O que Bento queria passar – já naquela época - é que não existe liderança sem serviço; liderança sem preocupação com o próximo.

- Aspectos cognitivos e afetivos bem direcionados
Em todo e em qualquer empreendimento é de fundamental importância a correta aplicação desses dois aspectos. Muitas empreitadas foram fadadas ao insucesso, pois desprezaram a importância da junção do binômio “como fazer” (aspecto que envolve conhecimento técnico) com “gostar de fazer”(aspecto que envolve afetividade). Isso fica ainda mais evidente quando estamos tratando de seres humanos com sonhos, projetos e aspirações.

- Respeitando as diferenças
Cada pessoa tem seu modo peculiar de agir e reagir em meio a várias situações. Cada um trás dentro de si uma bagagem sócio-cultural-emocional que deve ser respeitada. Não podemos esperar que os outros sejam moldados à nossa “imagem e semelhança”.
Um exemplo bem marcante de como se deve respeitar as limitações, vem do rei Davi quando estabelece a lei da divisão da presa. Dos seiscentos homens que compunham seu exército, duzentos não puderam acompanhar o ritmo de seus companheiros ficando, desse modo, no ribeiro de Besor como guardadores das bagagens (1 Sm 30:9; 24). Sem levar em consideração a contrariedade dos que foram ao campo de batalha, todos foram igualmente recompensados, sendo tal ato estabelecido por estatuto e direito em todo Israel a partir daquele dia.

- A otimização do compromisso
Vivemos uma época em que as pessoas cada vez mais não estão honrando com a palavra empenhada. É difícil poder realmente contar com alguém. É a era do descompromisso em todas as esferas; da banalização da palavra empenhada. Não se deve prometer nada se sabemos, de antemão, que não poderemos cumprir com o que foi acordado. Vamos ter que voltar novamente ao exemplo do rei Davi que tinha compromisso com as pessoas. Quando de seu encontro inicial com Samuel, ao contrário de Saul que havia perdido as mulas de seu pai, nós o vemos apascentando ovelhas. E essa é uma característica que vai servir de marca registrada em sua vida. Quando do episódio do levantamento do censo de Israel e de Judá e conseqüente aplicação do castigo, o que fala Davi? ...”Eu é que pequei, eu é que procedi perversamente, porém estas ovelhas que fizeram?...” (2 Sm 24:17b). Que pérolas são essas palavras pronunciadas pelo chefe de estado da maior nação do mundo na época, mas que jamais perdeu o compromisso de tratar suas ovelhas como ovelhas. Até o fim.

- A importância da idoneidade
Somos impelidos a citar Covey, Stephen R., em seu trabalho: Liderança baseada em princípios, em que destaca um princípio que tomo a liberdade de chamar de “Princípio da idoneidade”. Vamos ao que diz Covey: “Enfim, a implementação bem-sucedida de qualquer estratégia depende da idoneidade das pessoas para com os princípios regentes e de sua capacidade de aplicar esses princípios a qualquer situação, utilizando sua própria bússola moral”.

- Ter uma visão do futuro
Como consultor/instrutor do Sebrae-Rj ao longo de alguns anos, pude ver de perto a total ausência de um planejamento; de um estabelecimento de metas e alvos exeqüíveis; por parte, principalmente, das micro empresas. Isso explica porque oitenta por cento dessas empresas cerram suas portas dentro de um período de dois anos. Dentro da vida pessoal esse princípio, infelizmente, não foge à regra.
Nós temos um exemplo do rei Ezequias que, ao contrário de seu pai, fez tudo o que era reto e verdadeiro diante do Senhor. Tudo que fez o fez de coração, e prosperou. Teve experiências marcantes com o Senhor: teve uma cura maravilhosa; teve por momentos um coração que se exaltou mas que se humilhou diante do Senhor; mostrou ser um empreendedor; edificando cidades, construindo armazéns e todo sistema pluvial eficiente.
Só que não basta ser empreendedor. O empreendedor tem que ter a visão do empresário que analisa os prós e contras antes de se lançar em qualquer empreendimento.
Voltando ao nosso amigo Ezequias, ele não teve essa visão, pois quando inquirido por Isaías pelo fato de ter mostrado todo o tesouro e armas e tudo que estava em seu domínio à embaixada babilônica; sem esconder absolutamente nada, replica com essa pérola: ...”Boa é a palavra do Senhor que disseste. Pois pensava: Haverá paz e segurança em meus dias” (Is 39:8b). Pensamento imediatista; pensamento egoísta de alguém que só pensa no presente, não importando com o que possa acontecer com a própria descendência.

- Estreitar as distâncias
O verdadeiro líder não se coloca em um pedestal, como se o universo existisse em sua função. Essa postura afasta as pessoas e dificulta a comunicação. Falando em comunicação, me veio à mente o conceito do publicitário Washington Olivetto que traduz com precisão cirúrgica esse conceito: “Comunicação não é aquilo que a gente fala; é aquilo que os outros entendem”. Há uma comunicação efetiva quando aquilo que eu falo, seja qual for o canal, volta para mim de forma devidamente codificada pelo receptor e corrigido todo e qualquer possível tipo de ruído.
O verdadeiro líder não teme qualquer tipo de aproximação, pois sabe estabelecer muito bem a diferença entre autoridade e autoritarismo. Pode-se até fazer conquistas através do autoritarismo; mas jamais se conquistará respeito e admiração.
Sobre esse assunto, vamos ficar com as palavras de James C. Hunter em seu famoso livro O Monge e o executivo: “Liderança com autoridade é a habilidade em influenciar pessoas a fazerem de boa vontade o que você quer.”

- Acompanhar sem cercear
Um princípio muito difícil de ser aplicado e que Jesus soube transmitir de forma admirável. Tomemos como exemplo o encontro do Senhor com os dois discípulos no caminho de Emaús: Sabe o que vai no coração daqueles homens num momento tão difícil e confuso para ambos; aborda na hora certa; sem precipitação houve suas mazelas; respeita e acompanha o ritmo do caminhar de cada um; faz um mapeamento perfeito da situação; delimita a extensão do problema e transforma aqueles corações.
Tudo isso o faz sem cercear.

- A difícil arte da convivência
Em uma sociedade cada vez mais competitiva e voltada para si mesma, onde o que interessa são os resultados obtidos; conceitos como altruísmo, abnegação, empatia e desprendimento, vão ficando cada vez mais distantes da realidade do dia-a-dia e olhados até com certo desdém, tamanho o grau de insensibilidade e indiferença para com o próximo. Interessante a expressão ‘próximo’ (em inglês: neighbor = vizinho, próximo, semelhante) e no original grego (autógrafo), que segundo Thayer, tem o seguinte significado: “ Qualquer outro homem, sem se levar em conta sua raça ou religião, com quem vivemos ou a quem por acaso encontramos.” Uma outra noção dessa notável expressão segundo alguns [(em grego: perioikos (vizinho)] em que peri cuja idéia fundamental é ao redor de; em todos os lados e oikos que significa casa, família, raça. Nesse caso uma tradução LITERAL de ‘próximo’ seria aquele que está “ao alcance do meu olhar no perímetro de minha casa.” Fiz questão de assinalar esses termos, devido a importância dos mesmos e da aplicação prática que requerem.

“Sua capacidade técnica não basta! O verdadeiro sucesso só chega para aqueles que sabem conviver em diferentes ambientes”
Finalizando esse tópico vamos ficar com as palavras de Marcelo Aguilar:
“ Era uma vez uma época em que as grandes e boas empresas só contratavam os profissionais com diplomas de renomadas universidades. Isto era o que mais importava. Para o empregador bastava uma boa chancela acadêmica. Os diretores e gerentes destas organizações diziam: “Puxa, se o cara conseguiu entrar (e sair de) lá é porque ele é bom!”. Mas, não sem aviso, chegou a Bruxa malvada da Globalização junto com suas irmãs, as Bruxas da Modernização Tecnológica e da Reestruturação Organizacional Contínua. A partir deste dia acabou o sossego das empresas. Somente uma medida drástica poderia ajudar as empresas a driblar o caos criado por estas bruxas: contratação do perfil adequado para cada cargo. É claro que isto inclui o diploma de uma boa faculdade, de MBA reconhecido pelo mercado e outros, só que eles não são mais suficientes para garantir a vaga. O certificado abre a porta da empresa, porém os processos seletivos estão cada vez mais rigorosos. Estão, finalmente, fazendo a seleção.
Quem não passou por diversas dinâmicas após ter seu currículo selecionado por uma grande empresa? E as diversas entrevistas individuais para os poucos que “sobreviveram” a essas dinâmicas?
Estão checando se você corresponde ao que está escrito no seu currículo e, principalmente, se seu “jeitão” não vai perturbar o equilíbrio do local em que irá trabalhar. Pode parecer incrível, mas a aparente confusão, falta de tempo, estresse, etc dentro das organizações possuem um equilíbrio. Quem está dentro pode não perceber, mas pense comigo: se não houvesse um equilíbrio qualquer, não se chamaria organização, certo?”.
O verdadeiro líder sabe conviver (con-viver) em qualquer situação, eliminando, com graça, possíveis focos de conflito.

- A arte da superação
"Estevão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo" (At 6:8).
Estevão foi um homem que superou às expectativas, não se limitando apenas aos seus afazeres como diácono, sem nenhum demérito para esse oficio. Ele não se limitou a servir à mesa das viúvas gregas. Ele extrapolou em suas funções. Estevão foi um homem que soube resistir às pressões. Disse a verdade até o fim, custasse o que custasse, nem que fosse a própria vida. Ao falar, seus inimigos viam nele o rosto como o de um anjo. Como recompensa, ainda na terra, ele teve a visão da glória de Deus, com Jesus em pé à sua destra. Podemos dizer que, na condição de primeiro grande mártir cristão, Estevão deu um exemplo a todos nós. Não se intimidou, pois sabia que o Senhor estava com ele.
Teve uma vida curta, é verdade, mas uma vida dedicada ao Senhor. Tanta dedicação que após sua morte a Palavra de Deus faz questão de registrar que fizeram grande pranto, o que só acontecia com aqueles que sabiam fazer a diferença na sociedade na qual estavam inseridos. Um pranto como reconhecimento do seu valor. Que no nosso dia-a-dia, na condição ou não de líderes, possamos ter aprendido essa lição.
O grande líder faz a diferença quando ele transcende, superando expectativas, não caindo no lugar comum. O verdadeiro líder, além de dar todo o suporte para que outros tenham condições de prosseguir, deixa impressa a marca indelével da saudade.

- O Exemplo
Essa característica é a mais marcante. Existe um antigo provérbio suíço que diz: "As palavras são anões. Os exemplos são gigantes".
Muitos passam mas poucos realmente ficam, seria minha mensagem final.

Rev Emir Tavares

4 comentários:

  1. Graça e paz Emir!

    Passei para dar as boas vindas da UBE via blog.

    Deus o abençoe.

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  2. Reverendo Emir!
    Parabéns pelo o tema abordado. Como sempre passo por aqui e aprendo cada vez mais. Obrigada pela feliz partilha.

    Graça e paz
    Pastora Rosangela

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  3. Reverendo Enir.
    Palavras sábias, um desenvolvimento fantástico de nosso posicionamento diante das lideranças e do mundo em que estamos travando lutas espirituais. Que Deus continue lhe proporcionando dádivas para o livramento.
    Amém

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  4. Caro Rev. Emir.... Isso que entendo de um BLOG evangélico onde estamos propagando o evangelho de Cristo, excelente postagem.... me indicaram seu blog já estou seguindo. Tb espero sua visita.

    Um Abraço

    Pr. Gualter Guedes

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