sexta-feira, 27 de novembro de 2009

ÉTICA NO MILÊNIO

ÉTICA NO MILÊNIO
(BONHOEFFER, Resistência e Submissão, in "Estudos Teológicos", n.3/95, p. 223)




Quem Sou Eu?
Quem sou eu?
Seguidamente me dizem que saio de minha cela
Tão sereno, alegre e firme
Qual dono de um castelo.
Quem sou eu?
Seguidamente me dizem que da maneira como falo aos guardas,
Tão livremente, como amigo e com clareza
Parece que esteja mandando.
Quem sou eu?
Também me dizem que suporto os dias do infortúnio
Impassível, sorridente e com orgulho
Como alguém que se acostumou a vencer.
Sou mesmo o que os outros dizem de mim?
Ou apenas sou o que sei de mim mesmo?
Inquieto, saudoso, doente,
Como um pássaro na gaiola,
Sempre lutando no ar, como se me sufocassem,
Faminto de cores, de flores, às vezes de pássaros.
Sedento de palavras boas, de proximidade humana,
Tremendo de ira a respeito da arbitrariedade
E ofensa mesquinha,
Nervoso na espera de grandes coisas,
Em angústia impotente pela sorte de amigos distantes,
Cansado e vazio até para orar, para pensar, para produzir,
Desanimado e pronto para me despedir de tudo?
Quem sou eu? Este ou aquele?
Sou hoje este e amanhã um outro?
Sou porventura tudo ao mesmo tempo?
Perante as pessoas um hipócrita?
E um covarde, miserável diante de mim mesmo?
Ou será que aquilo que ainda em mim perdura,
Seja como um exército em derradeira fuga,
À vista da vitória já ganha?
Quem sou eu?
A própria pergunta nesta solidão de mim parece pretender zombar.
Quem quer que sempre eu seja,
Tu me conheces, ó meu Deus,
SOU TEU.

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